segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Critica literária por Francisco Carmelo Vasconcelos ( Professor e Escritor )


“Continuar de olhos bem abertos para o mundo (…) durante esta viagem que acredito ser um verdadeiro … remoinho de emoções.” (pág.143)

Assim acaba este livro, que age por uma dupla estética de sedução: em relação ao leitor e ao amado. Escreve-se para recriar e para capturar o amado magicamente pela beleza interior e pela escrita: depurada e sem grandes artifícios ou ornamentos.

Seguindo as lições de Italo Calvino, uma seguida simplicidade absoluta da linguagem, à volta
de poucas palavras, das mais elementares e com uma inusitada paixão:
“Quem me conhece sabe que tenho paixão pelas palavras.

(…)
Aprendi (…) a técnica das palavras e a formas das frases, mas acredito que o mais importante é o que vem dento de nós” (pág. 71)


E:
“Não sou poeta nem escritora. Sou entre tantas “sonhadoras”, nada mais do que uma idealista ou até uma lunática que levantou seu próprio universo de fantasias, ficções e sonhos.” (pág. 71)


E mais:
“Fui feliz pelas coisas simples da vida “. (pág.136)


Tudo é atravessado por um confessionalismo amoroso e intimista:
“ Há quem diga que tenho uma forma de escrever excessivamente modelada por emoções e extraordinariamente rica em sentimentos.
São elogios, confesso. È uma espécie de aplauso gigante …"(pág. 124)
“Para mim escrever é divagar. (…) Poder escrever neste cantinho cor-de-rosa é uma oportunidade. Eu sonho. (…) A cor que sempre idealizei . (pág. 29)


Fala-se nos ciclos orgânicos na mulher e a sua explicação, mas é rara e feliz a explicitação física do amor:
“A tua cabeça debruçada entre as pernas… a tua língua entranhada no meu ponto de prazer… a explosão desse prazer na tua boca. “ (pág. 81)


Verifica-se uma profunda subjectividade, uma assumida assunção do eu e um romantismo do indizível da prosa, e um registo quase obsessivo de uma relação amorosa desde o seu cume “orgiástico” à sua separação, num tom quase sempre afável.
Tudo decorre numa feliz coloquialidade, dialogismo do discurso, visualização clara dos sentimentos e emoções narrando uma ausência, com incursões no amor filial, na morte
"como ciclo da vida", a vida num registo mais emocional que racional "Eu não sei sentir em silêncio (…) tentar ser mais racional que emocional…isso seria uma luta contra mim própria." (pág.55)


Mas é na divinização dos sentimentos, na sua eternidade, no seu absoluto, na sua metafísica que este livro romance mais colhe, é a sua arquitectura… já agora a sua escultura, assim se define:
“Como não podes mudar o mundo nem as pessoas, só te resta continuar igual a ti própria, e manteres a tua postura altruísta, desprendida e confiante perante as pessoas e o mundo. (…) Como o pai costuma dizer saíste uma boa lírica(…)
É por estas e outras razões que tenho orgulho de ti.” (pág. 100)


“Existia sempre um caminho…de chegarmos ao que o desejo nos pedia. Bastava olhar à nossa volta, bastava olharmos no fundo dos olhos um do outro e ambos sabíamos.” (pág.62)


Barcelos,31 de Outubro de 2009
Francisco Carmelo Vasconcelos


Obrigada Professor , é uma grande honra saber que me "leu" .
Beijinhos

Marisa


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